Vários fatores contribuem para o estresse na nossa vida cotidiana. E os pets, sofrem estresse? No caso deles, o estresse pode acontecer por isolamento, tédio, falta de atividades físicas, separação, entre outras causas. É possível observar alterações de comportamento, como o aumento ou a redução de apetite, coprofagia e até agressividade. O estresse crônico gera ansiedade e, em algumas situações, pode levar à depressão. Além destas alterações sobre o comportamento, o estresse também afeta o metabolismo e a resposta imune, resultando em doenças metabólicas e alergias que são de difícil tratamento. Então se o estresse afeta o comportamento, o metabolismo e o sistema imunológico, será que o microbioma também fica suscetível?
A comunicação entre o microbioma, o intestino e o cérebro
No intestino dos animais existe uma comunidade de microrganismos que chamamos de microbioma intestinal. O microbioma interage com o animal resultando em diversos efeitos sobre a sua saúde. Esta interação é tão importante que os animais jovens que sofrem alterações ou com a ausência de microbioma apresentam dificuldade de desenvolver comportamentos. Por exemplo, um cãozinho com disbiose pode apresentar problemas de comportamento social, ou de exploração que afetam seu desenvolvimento (1) e comportamentos de ansiedade e depressão podem ser reduzidos com a administração crônica de Lactobacillus rhamnosus (2). A ligação entre o intestino e o comportamento pode ser explicado pelo eixo intestino-cérebro.
O eixo intestino-cérebro é um fenômeno complexo em que o organismo utiliza diversos sistemas dinâmicos estabelecendo uma comunicação entre o intestino e o cérebro. Esta comunicação ocorre em nível molecular, atingindo níveis celulares e resultando em efeitos fisiológicos observáveis, como os problemas metabólicos e imunológicos, e também de comportamento. Portanto, a interação do microbioma com o intestino causa efeitos no cérebro, que nós conseguimos observar por meio dos comportamentos alterados (3).
Estresse – cérebro – intestino – microbioma – intestino – cérebro
A exposição ao estresse também tem efeitos sobre o microbioma intestinal (4). O eixo intestino-cérebro é extremamente sensível ao estresse, então um animal estressado tem suas funções cerebrais alteradas que por sua vez afetam o intestino. E é aí que está a correlação com o microbioma, pois eventos estressantes impactam o microbioma, podendo ocasionar disbiose.
O estresse leva a alterações complexas na composição da microbiota intestinal (aumento ou redução de Bacteroides, aumento de Clostridiales, diminuição de Bifidobacterium e Lactobacillales) e aumenta a permeabilidade intestinal com a liberação de citocinas pró inflamatórias induzidas pela microbiota, muito comum na disbiose.
Além disso, o estresse também ativa respostas inflamatórias desregulando o eixo hipotálamo-hipófise-adrenocortical (HHA). Esta desregulação resulta em mais inflamação, e quando associada à disbiose e ao aumento da permeabilidade intestinal, atinge níveis que afetam também a permeabilidade da barreira hemato-encefálica, podendo causar inclusive episódios epiléticos (5).
Por isso reduzir o estresse favorece o microbioma intestinal. Se seu pet anda estressado, mudanças na rotina podem ajudar a aliviar esta condição. A Petbiomas tem o exame perfeito para revelar como anda o microbioma intestinal do seu pet. Assim, você pode tomar providências para mantê-lo saudável, e garantindo seu bem-estar!
Escrito por Flavio O. Francisco, PhD.
Mais informações nos artigos abaixo
1. Desbonnet L, Clarke G, Shanahan F, Dinan TG, Cryan JF. Microbiota is essential for social development in the mouse. Molecular Psychiatry [Internet]. 2014;146–8. Available from: www.alzgene.org/
2. Bravo JA, Forsythe P, Chew M v, Escaravage E, Savignac HM, Dinan TG, et al. Ingestion of Lactobacillus strain regulates emotional behavior and central GABA receptor expression in a mouse via the vagus nerve. PNAS. 2011;108(38):16050–5.
3. Bastiaanssen TFS, Gururajan A, van de Wouw M, Moloney GM, Ritz NL, Long-Smith CM, et al. Volatility as a Concept to Understand the Impact of Stress on the Microbiome. Psychoneuroendocrinology. 2021 Feb 1;124.
4. Bailey MT, Dowd SE, Galley JD, Hufnagle AR, Allen RG, Lyte M. Exposure to a Social Stressor Alters the Structure of the Intestinal Microbiota: Implications for Stressor-Induced Immunomodulation. Brain Behav Immun. 2011;25(3):397–407.
5. Medel-Matus JS, Shin D, Dorfman E, Sankar R, Mazarati A. Facilitation of kindling epileptogenesis by chronic stress may be mediated by intestinal microbiome. Epilepsia Open. 2018 Jun 1;3(2):290–4.