Um transplante de microbiota fecal (TMF) envolve a transferência de material fecal (incluindo bactérias e fungos benéficos) de um doador saudável para o trato gastrointestinal (TGI) de um receptor doente.
Embora isso pareça nojento para muitos de nós, para um subconjunto crescente de pessoas (e seus animais de estimação), este é um tratamento que salva vidas. Transplante de microbiota fecal é muito mais efetivo do que os probióticos existentes para cães e gatos para restaurar a comunidade de bactérias do TGI (Chaitman et al. 2016), sendo esta a razão para sua ampla utilização.
Sobre o transplante de microbiota fecal
O princípio por trás do transplante de microbiota fecal surge de descobertas relativamente recentes sobre a saúde de um indivíduo que pode estar intimamente ligada à condição e função de seu microbioma intestinal. Os microbiomas de indivíduos doentes podem se desequilibrar pelo crescimento excessivo de certas cepas de bactérias, como Clostridium perfringens em cães. Os indivíduos também podem sofrer com a falta de diversidade bacteriana que caracteriza um intestino saudável e robusto. Para pessoas e animais que procuram um transplante de microbiota fecal, existem vários métodos, sendo o mais comum a colonoscopia. Usando um tubo longo e flexível inserido através do reto, as fezes do doador são liberadas ao longo do interior do cólon.
O transplante de microbiota fecal salva vidas humanas
Então, quem, exatamente, concorda em se submeter a um transplante de microbiota fecal? TMFs são comumente usados para tratar pessoas que sofrem de colite por Clostridium difficile, que é causada por um crescimento excessivo de uma bactéria nociva (normalmente após o uso de antibióticos). Esta cepa particular de bactérias, conhecida como “C. diff” para abreviar, libera toxinas que inflamam os intestinos, causando diarreia, febre e às vezes até a morte. Muitas vidas são salvas todos os anos com um transplante de microbiota fecal de um doador saudável.
As aplicações do transplante de microbiota fecal não param por aí: a pesquisa atual está investigando TMFs como tratamentos para uma gama diversificada de doenças, desde a doença de Crohn até inflamação da pele e obesidade. Historicamente, muitos TMFs eram realizados com material doado por um familiar. Mais recentemente, uma empresa sem fins lucrativos chamada OpenBiome criou um banco de material de doadores humanos saudáveis e rastreados que agora é amplamente utilizado por hospitais nos EUA.
Transplante de microbiota fecal para animais de estimação com distúrbios digestivos
Embora o transplante de microbiota fecal seja cada vez mais usado para tratar infecções por C. diff em pessoas, o uso desse tratamento para restaurar a saúde digestiva em animais de companhia ainda está em sua infância na medicina veterinária. No entanto, produtores suecos têm realizado transplantes de líquido ruminal de ovelhas e vacas saudáveis para tratar a indigestão há centenas de anos e esta prática continua em uso para o gado em todo o mundo. Um número crescente de veterinários está oferecendo transplantes fecais para cães e gatos para tratar doenças como doença inflamatória intestinal, diarreia crônica e dermatite atópica. Um estudo recente mostrou que o transplante de microbiota fecal está associado à resolução mais rápida da diarreia em cães com parvovirose.
Como a Petbiomas pode ajudar
Milhões de animais de companhia sofrem de problemas gastrointestinais, e o diagnóstico de um distúrbio como doença inflamatória intestinal em seu amigo peludo pode custar muito dinheiro. É por isso que desenvolvemos nossos testes de microbioma de saúde intestinal para cães e gatos, que podem ajudar você e seu veterinário a determinar se os problemas digestivos do seu animal de estimação podem estar ligados a um microbioma intestinal desequilibrado.
Esperamos que o trabalho que estamos fazendo possa ajudar milhares de animais de estimação – talvez até o seu. Adoraríamos ouvir seus comentários, se você tem experiência com transplante de microbiota fecal em seu gato ou cachorro ou se está considerando isso.
Escrito por Holly Ganz, PhD.
Traduzido e adaptado por Flavio O. Francisco, PhD.
Clique aqui para ler o artigo original em inglês.
Mais informações nos artigos abaixo
Brandt L.J. 2012. Fecal transplantation for the treatment of Clostridium difficile infection. Gastroenterology & hepatology 8(3): 191–194. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3365524/
Chaitman J., Jergens A., Gaschen F., Garcia-Mazcorro J.F., Marks S., Marroquin-Cardona A., Richter K., Rossi G., Suchodolski J., Weese S. 2016. Commentary on key aspects of fecal microbiota transplantation in small animal practice. Veterinary Medicine: Research and Reports 7: 71-74. https://doi.org/10.2147/VMRR.S105238
Craig, J.M. 2016. Atopic dermatitis and the intestinal microbiota in humans and dogs. Veterinary Medicine and Science 2: 95-105. https://doi.org/10.1002/vms3.24
Kassam Z., Lee C., Yuan Y., Hunt R. 2013. Fecal Microbiota Transplantation for Clostridium difficile Infection: Systematic Review and Meta-Analysis, American Journal of Gastroenterology 108(4): 500-508. https://doi.org/10.1038/ajg.2013.59
Pereira, G.Q., Gomes, L.A., Santos, I.S., Alfieri, A.F., Weese, J.S., Costa, M.C. 2018. Fecal microbiota transplantation in puppies with canine parvovirus infection. Journal of Veterinary Internal Medicine 32: 707–711. https://doi.org/10.1111/jvim.15072
Schlegel, B.J., Van Dreumel, T., Slavić, D., & Prescott, J.F. 2012. Clostridium perfringens type A fatal acute hemorrhagic gastroenteritis in a dog. The Canadian veterinary journal = La revue veterinaire canadienne, 53(5): 555–557. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3327598/