Tanto para humanos quanto para nossos pets, onde quer que alimentos processados modernos cheguem, doenças crônicas como obesidade, diabetes e doença inflamatória intestinal logo aparecem. Para ajudar você a escolher a melhor dieta para o seu gato, vamos falar sobre a relação entre a dieta para gatos e inflamação e como isso afeta a saúde do seu bichano.
Dieta para gatos e inflamação: entenda os impactos?
A inflamação é um processo natural do sistema imunológico do seu gato para combater substâncias e organismos estranhos, como bactérias e vírus. Quando algo prejudicial é detectado, os glóbulos brancos liberam substâncias químicas que aumentam o fluxo sanguíneo na área afetada e causam vazamento de fluidos nos tecidos ao redor.
Isso resulta nos sintomas físicos da inflamação, como calor, vermelhidão e inchaço. Essa reação ajuda a reparar tecidos e protege o gato de infecções, mas pode ser desencadeada de forma inadequada. Quando a inflamação persiste por muito tempo e se torna crônica, ela pode levar a várias doenças, incluindo câncer e pancreatite.
A doença inflamatória intestinal felina (DII) é uma inflamação crônica no sistema digestivo do gato. Quando isso acontece, partes do trato digestivo (geralmente o intestino) ficam inflamadas, o que pode ser confirmado por uma biópsia. A inflamação em todo o corpo também pode ser detectada medindo certas substâncias químicas no sangue. Estudos científicos sobre alimentos e hábitos que causam inflamação em gatos geralmente analisam os níveis dessas substâncias no sangue ou nos tecidos.
Alimentos para gatos que causam inflamação
Os alimentos comerciais para gatos muitas vezes contêm carnes processadas (ou proteínas vegetais) e carboidratos refinados, que dependem de aditivos para aumentar o valor nutricional. Em humanos, dietas ricas em gorduras saturadas, gorduras trans, açúcar e carboidratos refinados podem aumentar os sintomas de inflamação.
Gatos podem ter reações semelhantes a muitos desses ingredientes, embora, como carnívoros obrigatórios, eles tenham evoluído para comer uma dieta rica em proteínas e gorduras. Por isso, as gorduras saturadas provavelmente são o fator menos prejudicial para a saúde dos gatos.
Os carboidratos refinados (que se transformam rapidamente em açúcares durante a digestão) são alguns dos piores causadores de inflamação em humanos. Embora não existam estudos semelhantes em gatos, os carboidratos têm o problema adicional de reduzir a capacidade do gato de absorver nutrientes dos alimentos. Alimentos para gatos ricos em proteínas geralmente têm 50% ou mais das calorias provenientes de fontes de proteína animal, e apenas 1-2% de carboidratos.
Ômega-3 e alergias
Muitos veterinários recomendam alimentar gatos com ração úmida em vez de seca, já que a ração seca geralmente contém mais carboidratos. E atenção: um alimento rotulado como “sem grãos” ou “sem glúten” não significa que é baixo em carboidratos. Esses alimentos podem conter batatas ou outros carboidratos mais baratos que carne.
As gorduras poli-insaturadas, como os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, também foram estudadas por seu papel na inflamação. Muitos estudos mostram que uma proporção maior de ômega-3 em relação ao ômega-6 pode reduzir a inflamação em humanos e roedores. Com base nisso, uma recomendação comum é oferecer ao seu gato uma dieta rica em ômega-3 e pobre em ômega-6, muitas vezes complementada com óleos de peixe ou krill.
No entanto, um estudo que alimentou gatos saudáveis com uma dieta pobre em ômega-3 por três meses não mostrou aumento de inflamação. Então, se o seu gato é saudável, talvez não seja necessário se preocupar tanto com isso, mas aumentar o ômega-3 ainda é uma boa ideia.
Por fim, seu gato pode ter alergia ou sensibilidade a ingredientes como carne bovina, laticínios ou peixe. Muitas reações alérgicas causam perda de pelo, coceira e irritação na pele (dermatite atópica). Se o seu gato apresentar esses sintomas, consulte um veterinário. Após descartar outros alérgenos ambientais (como pulgas ou aerossóis), você pode tentar uma dieta de eliminação para identificar a causa da inflamação.
Hábitos alimentares que causam inflamação
Não é só o que seu gato come, mas também a quantidade que pode desencadear inflamação. Quando o gato consome calorias em excesso, as células ficam estressadas, o que promove inflamação. Assim, comer demais constantemente pode levar à inflamação crônica.
Embora estudos semelhantes não tenham sido feitos em gatos, compartilhamos com eles mecanismos de armazenamento de energia. Se seu gato tende a comer demais, é importante controlar o tamanho das porções em vez de deixar uma tigela cheia de comida à disposição.
O papel da gordura corporal na inflamação
Dietas muito calóricas não apenas estimulam diretamente a inflamação, mas também podem levar à obesidade felina, que aumenta ainda mais a inflamação. Tecidos adiposos (gordura) em humanos e animais são ricos em células imunológicas, e muitas pesquisas mostram que altos níveis de gordura resultam em inflamação crônica.
Gatos obesos têm níveis mais altos de substâncias inflamatórias no sangue. No entanto, mudanças rápidas no tecido adiposo (durante ganho ou perda de peso) aumentam ainda mais essa inflamação. Por isso, se você colocar seu gato em um programa de controle de peso, o ideal é que a perda seja gradual.
Bactérias intestinais: a conexão entre dieta e inflamação crônica
Nos últimos anos, cientistas descobriram que as bactérias intestinais são essenciais para um sistema imunológico saudável. O microbioma ajuda humanos e gatos a digerir alimentos. Nossas escolhas alimentares influenciam diretamente quais tipos de bactérias vivem em nossos intestinos.
Como uma das funções do sistema imunológico é combater bactérias invasoras, algumas bactérias do microbioma intestinal podem provocar inflamação. No entanto, outras bactérias, como a Faecalibacterium em humanos, têm propriedades anti-inflamatórias. Níveis mais baixos dessa bactéria foram associados à doença inflamatória intestinal em cães. Empresas como a AnimalBiome estão identificando mais bactérias importantes para a saúde intestinal dos pets.
Outra evidência que conecta bactérias intestinais à inflamação é a forte associação entre o uso de antibióticos e o desenvolvimento de doença inflamatória intestinal (DII). Pessoas com DII têm maior probabilidade de terem usado antibióticos nos anos anteriores ao diagnóstico. Crianças com DII também têm três vezes mais chances de terem recebido antibióticos no primeiro ano de vida.
Muitos membros da comunidade AnimalBiome relatam que seus gatos desenvolveram DII após tratamentos com antibióticos. Se o seu gato precisar de antibióticos, considere monitorar a saúde intestinal com testes de microbioma e tomar medidas para aumentar a diversidade bacteriana, como o uso de cápsulas orais de transplante de microbiota fecal (FMT).
Como reduzir o risco de inflamação no seu gato
Resumindo, para minimizar a inflamação, você pode tentar o seguinte:
- Reduza o consumo de carnes altamente processadas e carboidratos pelo seu gato.
- Se ele come ração seca, tente mudar gradualmente para uma dieta úmida ou crua com alto teor de proteína.
- Considere complementar a dieta com ácidos graxos ômega-3, usando óleos de peixe ou krill.
- Se o seu gato não regula bem a alimentação, ofereça porções menores. Comedouros automáticos e brinquedos que controlam a velocidade de alimentação podem ajudar.
- Mantenha o peso do seu gato em um nível saudável. Use uma calculadora de peso saudável para gatos.
- Se colocar seu gato em uma dieta, opte por reduções graduais de peso.
- Monitore as bactérias intestinais com um exame de microbioma da Petbiomas e use essas informações para verificar se é necessário restaurar o microbioma do seu gato.
- Se o seu gato sofre de DII, faça testes alimentares com seu veterinário e crie um plano alimentar personalizado para a DII felina.
Escrito por Zhandra Entrolezo
Traduzido e adaptado por Flavio O. Francisco, PhD
Clique aqui para ler o artigo original em inglês.