Pesquisadores descobriram um padrão de microrganismos que pode ser indicativo de doença inflamatória intestinal (ou DII) em cães. Eles conseguiram usar esta informação para predizer quais cães tinham essa doença e quais não tinham com mais de 90% de precisão. Porém ainda são necessários mais estudos para que esta abordagem seja utilizada para diagnosticar a doença inflamatória intestinal em cães.
Doença inflamatória intestinal e o papel do microbioma
O microbioma intestinal, aquela comunidade de microrganismos que vivem nos nosssos tratos digestivos, pode ter um papel na doença inflamatória intestinal. Essa doença é uma família de doenças que inclui a colite ulcerativa e a doença de Chron. Caracterizada por uma inflamação crônica do trato digestivo, ela pode causar dor, diarreia grave e perda de peso. É uma doença debilitante que muitas vezes leva a complicações que ameaçam a vida. A prevalência da doença inflamatória intestinal em humanos no Brasil chega a 100 casos para cada 100 mil habitantes no sistema público.
Os cães e os gatos também podem sofrer com doença inflamatória intestinal. Para diagnosticá-la o veterinário faz vários exames como exame de sangue, de urina e de fezes. A doença não tem cura, sendo necessário controlar os sinais clínicos conforme apareçam. Os medicamentos utilizados geralmente são anti-inflamatórios e imunossupressores que eles devem receber por toda a vida. Além dos medicamentos, é necessário sempre monitorar sua dieta e alimentação.
Para relacionar o microbioma intestinal com a doença inflamatória intestinal em cães, pesquisadores da Universidade da Califórnia analisaram amostras fecais de cães com e sem a doença. E eles descobriram um padrão de microrganismos que pode ser indicativo de doença inflamatória intestinal em cães. Eles conseguiram usar esta informação para predizer quais cães tinham essa doença e quais não tinham com mais de 90% de precisão.
Além disso, eles também determinaram que os microbiomas de cães e humanos não são similares o suficiente para usar os cães como modelos para humanos com a doença. Apesar do resultado animador, os pesquisadores ainda não conseguiram determinar se os padrões de microrganismos associados com doença inflamatória intestinal contribuem para a causa da doença ou são um resultado da doença.
Para este estudo eles coletaram amostras fecais de 85 cães saudáveis e 65 cães com sinais crônicos de doença gastrointestinal e alterações inflamatórias confirmadas por patologia. Para determinar quais espécies microbianas estavam vivendo em cada amostra, eles usaram a técnica de sequenciamento de rRNA 16S (a mesma utilizada pela Petbiomas), para identificar rapidamente milhões de espécies de bactérias vivendo em uma amostra mista, com base em genes únicos que eles abrigam.
Com esta informação, os pesquisadores conseguiram procurar por similaridades e diferenças nas espécies microbianas encontradas em cães DII e não-DII. As diferenças foram significativas o suficiente para que eles conseguissem distinguir as fezes de cães DII das de não-DII com mais de 90% de precisão. Os pesquisadores também compararam dados de cães com achados paralelos em humanos de 2014. O time encontrou algumas semelhanças nas interações microbianas das amostras DII entre cães e humanos, porém a sobreposição foi apenas parcial. Como exemplo, eles encontraram bactérias Fusobacterium que estão associadas a doenças em humanos, mas em cães elas foram associadas com amostras não-DII.
Próximos passos no estudo da doença inflamatória intestinal
Ainda são necessários mais estudos para que esta abordagem seja utilizada para diagnosticar DII em cães. E os pesquisadores têm intenção de estudar a sobreposição de microbiomas de uma série de animais DII e não-DDI. Como os animais de zoológico, por exemplo, que apresentam DII com mais frequência do que seus semelhantes selvagens. A ideia é estudá-los para encontrar os microrganismos-chave para a DII dentre todas as espécies.
Se quiser saber mais sobre o microbioma do seu cachorro ou gato, veja nossos exames Dogbioma e Catbioma.
Escrito por Flavio O. Francisco, PhD.
Journal Reference:
Yoshiki Vázquez-Baeza, Embriette R. Hyde, Jan S. Suchodolski, Rob Knight. Dog and human inflammatory bowel disease rely on overlapping yet distinct dysbiosis networks. Nature Microbiology, 2016; 1: 16177 DOI: 10.1038/nmicrobiol.2016.177