Como era a dieta de cães domesticados antigamente? Será que é possível identificar o microbioma antigo desses cães?
A amizade entre cães e humanos influenciou a dieta dos cães desde a antiguidade. As preferências alimentares de cães que viviam em civilizações antigas foram desvendadas a partir de fezes fossilizadas (também chamadas de coprólitos) encontradas no Sítio Histórico Estadual dos Cahokia Mounds, localizada na região da moderna Saint Louis, Missouri, EUA. E isso permitiu fazer uma inferência sobre o microbioma antigo desses animais.
Os pesquisadores tinham interesse em analisar os coprólitos há muitos anos, porém não exisitiam ferramentas para esta análise. Como este material é contaminado, diferentes técnicas são necessárias, uma verdadeira investigação, para uma análise adequada. Esta foi a primeira vez que alguém usou várias abordagens para fornecer informações sobre a dieta diária, a saúde e as tendências de longo prazo em cães antigos das Américas.
Qual seria a dieta dos cães com esse microbioma antigo?
Cahokia Mounds, cerca de 13 km a nordeste de St. Louis, Missouri, era o maior assentamento pré-colombiano ao norte do México. Foi ocupado principalmente durante o período do Mississippi (800-1400), quando cobriu quase 1.600 ha. É um exemplo impressionante de uma sociedade de chefia complexa e numerosas aldeias. Essa sociedade agrícola pode ter tido uma população de 10 a 20.000 habitantes em seu pico entre 1050 e 1150. Era um grande centro urbano com uma população maior do que Londres ou Paris, o que torna a investigação significativa. Sabe-se que existe uma sobreposição entre a dieta de cães e humanos, provavelmente porque os cães eram alimentados com a mesma comida ou porque eles comiam os restos de comida de humanos.
Os resultados demonstraram que cães se alimentavam de abóbora, girassóis e milho, que faziam parte da dieta dos humanos daquela região. As amostras de milho foram examinadas utilizando a análise de isótopos estáveis, que é utilizada para medir diferentes formas de carbono numa amostra. Ou seja, dependendo das concentrações de carbono, pode-se identificar que tipo de planta foi consumida. Os pesquisadores também encontraram restos de animais e plantas nos coprólitos. E demonstraram que nozes, uvas e uma variedade de peixes e patos faziam parte da dieta dos cães.
Como estudar o microbioma antigo?
Os pesquisadores também usaram o sequenciamento de DNA para determinar a comunidade de microrganismos dos coprólitos, ou seja, o microbioma antigo, através do estudo das fezes antigas. Com esta técnica eles conseguiram confirmar se as amostras eram de cães ou de humanos, bem como confirmar aspectos gerais da dieta pela comparação dos microbiomas.
Embora as técnicas sejam novas e mais sensíveis, os coprólitos ainda são difíceis de estudar por uma série de razões. O DNA já havia passado pelo processo digestivo nos cães e, portanto, foi decomposto. Além disso, como as amostras são antigas, o DNA extraído estava degradado, em grande parte, devido às intempéries. As amostras estavam contaminadas pois haviam sido depositadas há mais de mil anos. Isto significa que o ambiente mudou, alguns microrganismos morreram enquanto outros assumiram o controle. Assim, torna-se difícil determinar quais seriam os microrganismos predominantes nos cães antigos.
Devidos às muitas limitações da pesquisa, os pesquisadores estão trabalhando com as comunidades indígenas para entender melhor como eram as dietas de seus ancestrais e consequentemente de seus cães. Ao conversar com os membros da comunidade sobre o que seus ancestrais comiam e como eles interagiam com os cães, os pesquisadores conseguirão compreender melhor os resultados observados.
Ficou curioso sobre o microbioma de cachorros? Veja mais artigos no nosso blog e os exames de microbioma da Petbiomas.
Escrito por Ananya Sen.
Traduzido e adaptado por Flavio O. Francisco, PhD.
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