Se seu cachorro come cocô, você não está só. Cerca de 50% dos cães comem ou vão comer cocô em algum momento de suas vidas. Também conhecido como coprofagia, este comportamento é mais comum dentre cães domésticos do que seus parentes selvagens.
Trata-se de um hábito ruim que enoja algumas pessoas, podendo sinalizar algum problema de saúde ou de comportamento. Além disso, se as fezes estiverem contaminadas, seu cão fica exposto a agentes infecciosos ou parasitas, como parvovírus ou vermes.
Existem diversas teorias sobre o que motiva os cães a petiscar um pouco de cocô de gato da caixa de areia, as fezes no parque, ou as suas próprias fezes. A seguir, estão as 5 razões biológicas e ambientais mais comuns e o que tutores podem fazer sobre isso.
1. Deficiências de bactérias no microbioma intestinal
O microbioma intestinal é o termo que descreve a comunidade de todas as bactérias, vírus, fungos, e outros micróbios que vivem no trato intestinal. Existem centenas de diferentes espécies de bactérias no microbioma intestinal e eles têm um papel importante na saúde geral, desde funções digestivas até imunológicas.
Se seu cão tem poucas bactérias benéficas no intestino, eles podem comer cocô instintivamente para introduzir mais bactérias boas em seu intestino. Outra teoria aponta para a mal absorção de nutrientes relacionada a bactérias, pois algumas bactérias específicas do intestino também ajudam a absorver nutrientes da dieta, além de produzirem nutrientes importantes. Se estas bactérias estão em falta, seu cão não consegue obter estes nutrientes e pode procurar as fezes como uma forma de obtê-los.
O desequilíbrio de bactérias é muito comum em cães, e os sintomas podem iniciar com problemas digestivos (como diarreia e vômitos) progredindo para algo mais sério.
Felizmente, você pode fazer um teste para detectar qualquer problema no microbioma intestinal com o Dogbioma antes mesmo dos sintomas surgirem. Com o Dogbioma, é possível detectar desequilíbrios do microbioma, e receber nosso informativo com recomendações individualizadas para reestabelecer o estado saudável. Por exemplo, o informativo pode conter recomendações para que seu cachorro receba mais fibras em sua dieta, que é um nutriente essencial para as bactérias benéficas do intestino.
2. Causas comportamentais
Existem poucas circunstâncias em que a coprofagia é considerada normal em cães, como por exemplo mamães que limpam seus filhotes até o desmame. Porém, para a maior parte dos cães adultos, o motivo é geralmente comportamental.
Ansiedade: A coprofagia é muito mais comum em cães com ansiedade, por isso é considerada uma forma de lidar com o estresse. Comer fezes – tal como perseguir o rabo, latidos em excesso, e excesso de lambedura – são comportamentos que servem como distrações temporárias devido ao desconforto relacionado à ansiedade. Prover ao seu cão um local calmo e seguro para ele relaxar, além de vários brinquedos para enriquecimento são as melhores soluções para os ansiosos comedores de cocô. Converse com seu veterinário sobre quais recomendações seriam viáveis para contornar problemas relacionados à ansiedade.
Necessidade de atenção: Alguns tutores ficam surpresos ao perceber que o cão come cocô devido à necessidade de atenção. Para testar esta teoria com seu próprio cão, mude sua reação quando eles apresentam este comportamento e veja se nota alguma alteração.
Se você acha que seu cão está comendo cocô por algum motivo comportamental, limite seu acesso às fezes, tente diferentes formas de distração, e use reforço positivo para tentar quebrar este hábito.
Instinto ancestral: Comer cocô também pode ser um instinto ancestral. Pesquisadores da Universidade de California Davis observaram que cães raramente comem fezes feitas há mais de dois dias, sugerindo que esta seria a forma que os cães viviam antes de serem domesticados.
Possivelmente, os cães comem cocô fresco para prevenir a disseminação de doenças, além de manter sua área limpa. Os ovos de parasitas encontrados nas fezes podem levar dias a semanas para atingir um estágio em que são infecciosos. Portanto, ao comer o cocô fresco, eles evitam que parasitas se tornem uma ameaça à matilha.
3. Deficiências nutricionais
Comentamos sobre deficiências relacionadas às bactérias acima, porém qualquer deficiência pode provocar a ingestão de fezes em cães independentemente do que está ocorrendo no microbioma intestinal. Há muito a se fazer para ter certeza de que a dieta de seu cão está suprindo todas as suas necessidades nutricionais, que se alteram conforme a idade.
Cães que não recebem a quantidade suficiente de vários nutrientes estão mais propensos a se tornarem coprófagos. Por exemplo, a falta de fibra em sua alimentação pode fazer com que seu cão procure suplementação a partir das fezes.
O microbioma intestinal de cada cão é único, bem como suas necessidades nutricionais. Por este motivo, o teste de microbioma é uma ferramenta valiosa para os tutores. Este teste permite que você descubra se o alimento que você fornece para seu cão está auxiliando em sua função intestinal, e oferece recomendações simples, baseadas nos resultados individuais do seu cão, que irão ajudar a reequilibrar seu microbioma intestinal.
4. Problemas de saúde
Muitos casos de coprofagia não têm relação com condições de saúde, porém existem algumas doenças que aumentam a tendência do cão de comer fezes. Uma das condições é a Insuficiência Pancreática Exócrina (PIE). O pâncreas é responsável por produzir enzimas digestivas que ajudam a degradar alimentos em nutrientes que podem ser absorvidos pelo organismo. Cães com IPE não produzem enzimas de forma adequada e isso afeta a capacidade de digestão dos alimentos. Isto faz com que alguns cães com IPE desenvolvam um apetite insaciável pelo material pré-digerido das fezes.
Hipotireoidismo, diabetes, síndrome de Cushing são outras condições que podem aumentar a tendência do cão em comer fezes, apesar das razões para isto serem pouco compreendidas na medicina veterinária.
Se seu cão teve um aumento de comportamento coprófago combinado com perda de peso, isto pode ser um sinal de alerta. Check-ups regulares com seu veterinário são importantes para detectar estas condições médicas precocemente.
5. Predisposições genéticas
Como vários comportamentos e condições dos cães, a coprofagia ocorre com mais frequência em algumas raças.
Pesquisas demonstram que Labrador Retriever e Golden Retriever têm cerca de duas vezes mais tendência de comer cocô quando comparadas com outras raças de cães. Uma teoria sobre isso está relacionada com uma mutação genética comum em Retrievers que impede que eles “desliguem o interruptor de fome” após uma refeição. Isto resulta em comportamentos de busca obsessiva por alimentos; Retrievers vão comer de tudo, inclusive fezes.
Ainda há muito para aprender sobre o motivo de algumas raças terem maior predisposição de comer cocô do que outros, porém também há muito que você pode fazer como tutor para desencorajar este comportamento.
Recomenda-se que tutores de cães coprófagos limitem o acesso às fezes, limpando imediatamente após eles evacuarem, mantendo a caixa de areia dos gatos em um local em que eles não têm acesso, e observando seu comportamento em passeios e parques. Além disso, distrações e reforço positivo são métodos efetivos que evitam que seu cão coma cocô.
Escrito por Katie Dalhausen, PhD.
Traduzido e adaptado por Flavio O. Francisco, PhD.
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